segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A internet como calmante - ou como alienante?



Adoro usar situações da minha vida - por mais dolorosas que sejam - para aprender, para analisar e ter algum insight.
A que eu vim dividir com vocês hoje foi uma tarde da semana passada em que a companhia de TV a Cabo e internet me sacaneou e ficamos várias horas sem sinal. O Bem e eu começamos a brigar por motivos fúteis, que talvez nem viessem a tona caso estivéssemos conectados. Pouco tempo depois, a briga já estava intensa como uma guerra nuclear.

E entramos naquele ciclo de “esse casamento se autodestruirá em 10, 9, 8...”, sabe? Quando a briga perde o foco e o sentido - se que é briga alguma vez tem sentido - e começa-se a discutir a discussão.
E, com o  pouco de bom senso que ainda nos restava, tentávamos nos afastar para esfriar a cabeça e não piorar as coisas. Mas era impossível. Fazer atividades domésticas, como lavar louça, é ruim sem uma música ou o barulho da TV; ler um livro era impossível com a mente fervilhando de tal maneira. Então, nos aproximávamos e seguia a discussão da discussão.
Enfim, voltou o sinal do cabo, e pudemos, finalmente, um se  jogar na frente da TV,  inerte, para ver mais um episódio do seriado policial Law & Order e outro, ao computador,  verificando as futilidades urgentes das redes sociais e os imperdíveis emails de propaganda.
Cerca de meia hora de repouso da mente  - ou alienação - já foi suficiente para nos voltarmos, com olhos marejados, um para os braços do outro, com pedidos de desculpas e arrependimentos.

Então, após a apresentação do case, vamos conversar. Primeiro, sobre o vício em TV-internet-informações e em segundo, no efeito calmante que a tecnologia proporciona.

Eu já fui viciada em TV, daquelas de ficar todas as horas possíveis na frente da TV. De chegar do trabalho em casa às 18 horas e ficar até dormir, pela meia noite, vendo TV e depois reclamar da falta de tempo e de que não conseguia fazer nada em casa. Ligar a TV  foi, por muito tempo, a primeira coisa que fazia ao acordar e ao chegar em casa. Com a internet, não tive um apego tão grande pois só fui ter internet rápida em casa e laptop recentemente.

Ultimamente, tenho tentado ser uma pessoa mais offline, me referindo a todos as tecnologias. Tenho aprendido a apreciar o sentar na rua, ler um livro e o jornal e me convencido que não fazer nada é melhor que não fazer nada na internet.

Mas foi muito difícil chegar a essa conclusão e colocá-la em prática. Vivi períodos de apatia, em que chegava em casa preparava meu café e ia comê-lo na cama, para assistir religiosamente a programação. Nesse período, eu acumulava coisas para fazer e frustrações por não fazer outras tantas coisas. Também me ressentia de a vida dos outros parecer bem mais interessante que a minha - afinal quase qualquer coisa é mais interessante que uma vida de telespectador em tempo integral.

Pela minha experiência, posso dizer que nos largamos no sofá pois o peso da nossa vida é grande demais para nossas pernas, mas em pouco tempo o sofá nos incomodará tanto como hoje nossa vida nos incomoda.
O outro lado do vicio é a abstinência, que nos tira o chão, nos transforma em zumbis andando pela casa sem saber o que fazer e nos faz perder um tempo precioso. Além disso, como todas as sindromes de abstinências pode causar “Sofrimento mental;Sofrimento físico e Mal-estar.” (fonte aqui). O sofrimento mental pode ser a ansiedade e a  irritabilidade, descrita no case acima; o sofrimento físico, aquela preguiça ou sono que não nos permite dormir, sabe? Quando vamos para a cama e despertamos, levantamos e nos dá uma moleza? Pois é, sofrimento físico. E o mal estar, na minha opinião, é a junção de sofrimento mental e o físico.

Agora, o efeito calmante, como no caso do casal briguento, é uma pequena parte da letargia do vício.  Um vez li que o corpo gasta menos calorias vendo TV ou usando o computador do que simplesmente sentado fazendo nada, então imagino que o corpo desligue alguns ‘circuitos’ e economize energia no modo telespectador. Assim, nossa mente fica mais livre, se distraí, voa, vê novas situações...

Para mim, é um ‘não vou pensar nos meus problemas só um pouquinho’ para eu conseguir respirar e enxergar situação com mais perspectiva que a ponta do meu nariz. Talvez, para aqueles que recorrem à internet, seja mais uma afirmação positiva da individualidade.  Não que na hora eu pense nisso, eu só quero ‘cuidar de mim mesma, não vou parar minha vida por causa de coisas ruins da minha vida’ .
Esse efeito vem para ajudar a esfriar as ideias, o ‘sleep on it’ - do inglês, dormir sobre isso - mais ou menos igual a quando estamos escrevendo um texto e deixamos para ler depois.  

Eu acredito que o veneno em pequenas doses pode ser remédio.  Assim, se permitir um período de descanso e vivência da dor é saudável, desde que visto como temporário, algo com prazo para terminar, - eu me dou de uma a duas semanas. Afinal, mais tempo que isso já caimos no vício e comodismo. Como eu disse, depois de um pequeno tempo para elaborar a dor , é arregaçar as mangas, agarrar a vida pelo pescoço e fazê-la do jeito que nos agradar.